sábado, 25 de agosto de 2012

52- TRABALHO INFANTIL E A POUPANÇA JOVEM

Neste arquivo a educadora Ely Paschoalick comenta seu posicionamento frente aos pais ou estado que pagam pelos trabalhos domésticos e, o que é pior: pagam aos melhores.

Nesta semana, dia 12 de junho, comemora-se há 10 anos o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil.

Não vou escrever aqui os avanços que foram efetivados no Brasil e no Mundo após a instituição deste dia, assim como também não vou comentar sobre a barbárie que muitos seres humanos praticam sacrificando a infância e a adolescência impingindo-lhes verdadeiros trabalhos forçados, exploratórios e escravos.

Temos muito a comemorar pois no Brasil temos uma legislação que só permite o trabalho em caráter de aprendiz desde que preserve sua segurança, saúde, moralidade e garanta a freqüência e bom desempenho na escola e esta proibição ainda é regulamentada pelo decreto 6481 com a famosa Lista TIP – Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil

Se você critica o ECA dê uma olhadinha neste decreto e repense sobre este aspecto.
Achei muito pertinente as atividades programadas em cada estado brasileiro com o tema: Educação: resposta certa contra o trabalho infantil.

No entanto, aqui, agora, quero falar sobre um hábito que cada vez cresce mais dentro das famílias de trabalhadores brasileiros: Pagar, aos filhos, pelos trabalhos domésticos. 

Trabalho doméstico é obrigação do indivíduo que reside em uma cidade, em uma família, em um grupo social. Cada um deve estar envolvido no bem estar do outro e não só colaborar com a limpeza e a administração da casa para ganhar dinheiro para seu bem estar. Além de deturpar a formação moral e ética da pessoa esta é uma medida educativa que produz indivíduos egoístas, interesseiros e negociadores de suas obrigações.



Prêmios para os que fazem melhor só vão estimular o orgulho, a vaidade, a inveja e o bullying familiar.  

E o que dizer de certos governos, como é o caso do Município de Uberlândia, que oferecem dinheiro como premio aos melhores alunos?

Esta medida merece, a meu ver, os mesmos comentários feitos acima e com um agravante: o orgulho, a vaidade, a inveja e o bullying vão ser estimulados dentro de um grupo onde os pares não são ligados por laços familiares e amorosos, o que pode provocar comportamentos mais violentos ainda.

No lugar de promover esta imoralidade capitalista, o governo deve sim gastar suas energias em promover ações que garantam o aprendizado de todos por mais dificuldades comportamentais, emocionais ou intelectuais que alguns deles possuam.

Não estou me referindo a “bolsa escola” que deveria ser um programa de oferecer uma ajuda de custo a todos que estudam estou me referindo a indecência de oferecer um prêmio em dinheiro aos que se destacam como melhores resultados nos estudos.

Este é um programa que vai estimular apenas aos bons alunos e o que o governo necessita é estimular e promover o resultado positivo a todos os alunos e não apenas aqueles privilegiados que têm mais condições – sejam elas intelectuais – sociais  ou financeiras - de efetivar estudos em casa, em um sistema de meio período.

As mesmas ações sociais e comportamentais exigidas aos jovens do programa “Poupança Jovem” poderiam ser estimuladas e realizadas na escola se o sistema escolar fosse modificado em sua estrutura seriada e mecanicista.

As pessoas estão tão envolvidas em suas particulares competições que o capitalismo estimula que nem percebem o quanto tais programas prejudicam a formação moral de nossos jovens adolescentes.

E ainda por cima em Uberlândia a “Poupança Escolar” contempla os jovens em mais tenra idade do que o programa estadual porque, no lugar de abranger os alunos da última fase da Educação Básica (antigo colegial), abrangem os da primeira fase do  Ensino Básico ou seja os 9 anos do Ensino Fundamental.
Ainda por cima tal medida fortalece a exclusão do jovem pobre da universidade pública como se fosse “normal” e “obrigatório” a família do jovem ter uma poupança para custear seus estudos inacessíveis financeiramente.

51- CÍRCULO VICIOSO

             Este artigo foi escrito por minha amiga professora Ivone Boechat.
Achei tão lindo que resolvi publicá-lo, com autorização da autora.

Que sirva para nossa reflexão:
Será que nos resta apenas condenar estas pessoas que estão presas neste círculo vicioso?

O que podemos fazer à imagem de Cristo para que sejamos misericordiosos?

Reflita:




              Um dia, milhões de bebês choraram na liberdade uterina do milagre da vida: nasceram. Não vestiram seus corpos, não lhes calçaram sapatos nem lhes deram o conforto do seio materno, antes da posse do sonho infantil, foram rejeitados, ao rigor do abandono.


             Um dia, mãozinhas trêmulas, inseguras, sem afeto, bateram na porta do vizinho, procurando abrigo. Não havia ninguém ali para oferecer afeto nem portas havia na pobreza do lado. O menino escorregou na direção da rua.

             Um dia, a criança anêmica foi eleita à marginalidade da escura noite e disputava papelões e pães no lixo do depósito público. Aos tapas, cresceu como grão perdido no vão das pedras, sem a mínima possibilidade de sobreviver: sem teto, sem luz, sem chão.
             Um dia, o adolescente esperto teve alucinações de vida e o desejo de conferir a sociedade: candidatou-se à luta amarga do subemprego. Alvejado pela falta de habilitação, foi condenado como vagabundo, recebendo etiqueta oficial de mendigo.
             Um dia, o adulto desiludido, amargurado, sem emprego, sem referencial, saiu à procura do amor. No escuro, mas cheio de esperanças, foi colecionando portas fechadas pelo caminho. Sem Deus, sem nome, sem avalista, sem discurso, acreditou no "slogan"  das campanhas sociais.
             Um dia, o menino mal nascido, mal amado, mal educado, não soube cuidar do filho que nem chegou a ver. Não ouviu seu choro. Imaginou apenas que, após nove meses de duríssima gestação, alguém brotara de um rápido encontro, irresponsável, assustado e vazio que sempre ouviu dizer que se chamava amor.


Ivone Boechat