Neste arquivo a educadora Ely Paschoalick comenta seu posicionamento frente aos pais ou estado que pagam pelos trabalhos domésticos e, o que é pior: pagam aos melhores.
Nesta semana, dia 12 de junho, comemora-se há 10 anos o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil.
Não vou escrever aqui os avanços que foram efetivados no Brasil e no Mundo após a instituição deste dia, assim como também não vou comentar sobre a barbárie que muitos seres humanos praticam sacrificando a infância e a adolescência impingindo-lhes verdadeiros trabalhos forçados, exploratórios e escravos.
Temos muito a comemorar pois no Brasil temos uma legislação que só permite o trabalho em caráter de aprendiz desde que preserve sua segurança, saúde, moralidade e garanta a freqüência e bom desempenho na escola e esta proibição ainda é regulamentada pelo decreto 6481 com a famosa Lista TIP – Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil
Se você critica o ECA dê uma olhadinha neste decreto e repense sobre este aspecto.
Achei muito pertinente as atividades programadas em cada estado brasileiro com o tema: Educação: resposta certa contra o trabalho infantil.
No entanto, aqui, agora, quero falar sobre um hábito que cada vez cresce mais dentro das famílias de trabalhadores brasileiros: Pagar, aos filhos, pelos trabalhos domésticos.
Trabalho doméstico é obrigação do indivíduo que reside em uma cidade, em uma família, em um grupo social. Cada um deve estar envolvido no bem estar do outro e não só colaborar com a limpeza e a administração da casa para ganhar dinheiro para seu bem estar. Além de deturpar a formação moral e ética da pessoa esta é uma medida educativa que produz indivíduos egoístas, interesseiros e negociadores de suas obrigações.
Os pais, como líderes da família devem auxiliar para que os serviços sejam distribuídos de acordo com a idade, a capacidade e o tempo de cada um dos moradores da família e estimular para que todos o façam com responsabilidade, pontualidade e prazer.
Prêmios para os que fazem melhor só vão estimular o orgulho, a vaidade, a inveja e o bullying familiar.
E o que dizer de certos governos, como é o caso do Município de Uberlândia, que oferecem dinheiro como premio aos melhores alunos?
Esta medida merece, a meu ver, os mesmos comentários feitos acima e com um agravante: o orgulho, a vaidade, a inveja e o bullying vão ser estimulados dentro de um grupo onde os pares não são ligados por laços familiares e amorosos, o que pode provocar comportamentos mais violentos ainda.
No lugar de promover esta imoralidade capitalista, o governo deve sim gastar suas energias em promover ações que garantam o aprendizado de todos por mais dificuldades comportamentais, emocionais ou intelectuais que alguns deles possuam.
Não estou me referindo a “bolsa escola” que deveria ser um programa de oferecer uma ajuda de custo a todos que estudam estou me referindo a indecência de oferecer um prêmio em dinheiro aos que se destacam como melhores resultados nos estudos.
Este é um programa que vai estimular apenas aos bons alunos e o que o governo necessita é estimular e promover o resultado positivo a todos os alunos e não apenas aqueles privilegiados que têm mais condições – sejam elas intelectuais – sociais ou financeiras - de efetivar estudos em casa, em um sistema de meio período.
As mesmas ações sociais e comportamentais exigidas aos jovens do programa “Poupança Jovem” poderiam ser estimuladas e realizadas na escola se o sistema escolar fosse modificado em sua estrutura seriada e mecanicista.
As pessoas estão tão envolvidas em suas particulares competições que o capitalismo estimula que nem percebem o quanto tais programas prejudicam a formação moral de nossos jovens adolescentes.
E ainda por cima em Uberlândia a “Poupança Escolar” contempla os jovens em mais tenra idade do que o programa estadual porque, no lugar de abranger os alunos da última fase da Educação Básica (antigo colegial), abrangem os da primeira fase do Ensino Básico ou seja os 9 anos do Ensino Fundamental.
Ainda por cima tal medida fortalece a exclusão do jovem pobre da universidade pública como se fosse “normal” e “obrigatório” a família do jovem ter uma poupança para custear seus estudos inacessíveis financeiramente.