sábado, 2 de agosto de 2014

UM BANDO DE FOFOQUEIROS

UM BANDO DE FOFOQUEIROS!
 (Publicado no blog http://elypaschoalickeosprofessores.blogspot.com.br/– na coluna UIPI em 2/8/2014 e entregue aos professores do Colégio CEIA em RECADINHOS PRECIOSOS no livro de pontos do dia 4/08/2014)

                A educadora Ely Paschoalick comenta como as escolas podem estimular e potencializar o hábito de caguetar, delatar, denunciar os colegas e os amigos, criando uma geração de fofoqueiros.



                Para mim, sempre foi um fenômeno do comportamento humano o fato do sistema do Terceiro Reich, implantado por Hitler, ter conseguido estabelecer entre os alemães o hábito da população denunciar quem era judeu, mesmo que este ou aquele fosse pai de seus netos, esposa de seu filho, seu melhor amigo ou apenas vizinho ou conhecido.

                Quando observo, nas escolas do século XXI, século da inclusão e do respeito às diferenças, professores eleger um ou dois ajudantes do dia para observarem os colegas e depois contar quem desobedeceu as regras estabelecidas, durante a ausência e até mesmo a presença do professor, fico a compreender como o sistema funciona:

                Basta um líder carismático e detentor do poder de punir ou premiar, solicitar que PELO BEM GERAL DE TODOS o papel do delator, cagueta, dedo duro se faz extremamente necessário para a ORDEM E O PROGRESSO daquele grupo social.

                É de pequeno que se torce o pepino, diz o dito popular e estarrecida presencio, nas escolas brasileiras pós-ditadura militar e constituinte dos direitos humanos de 88, instalado e divulgado entre os professores, pais e alunos este hábito de delatar os colegas. Hábito que denigre a formação do ser humano em nossas comunidades escolares. Quero ilustrar o que estou comentando com uma experiência que presenciei:

                Era uma tarde tranquila e bonita de inverno brasileiro, 20 alunos entre 4 e 5 anos estavam felizes na sala de aula ouvindo uma linda história infantil quando vem a notícia de que um dos coleguinhas fez coco nas calças lá no banheiro. De imediato a professora lança mão dos dois ajudantes do dia e pede que eles observem quem não bem se comporta para poder acudir o menino que está necessitando dela no banheiro.

              Pronto, o hábito do caguetismo começa a se estabelecer e a ser encarado como um AUXÍLIO DO BOM MENINO AO QUERIDO PROFESSOR.

              Você, leitor, pode estar me questionando: Mas o que a professora poderia ter feito? 

Que tal experimentar uma atitude de autocontrole com todos e misericórdia com seu coleguinha que deve estar constrangido pelo fato de terem visto seu indesejável e incontrolável acidente com suas fezes?

                Que tal estabelecer um clima de confiança mútua, comiseração, respeito e crescimento pessoal de todos e de cada um? BASTA ESTABELECER NOVOS HÁBITOS COM NOVOS DIZERES E ATITUDES:

                __ Gente, um de nós está com dificuldades no banheiro. É tão triste a gente ir ao banheiro e não conseguir controlar o coco, vocês não acham? No entanto é uma situação que todos nós podemos passar, eu que faço coco todos os dias e cada um de nós que, se temos boa saúde, fazemos também coco diariamente. Posso ir lá ajudá-lo enquanto cada um de nós manda seu corpo não sair da cadeira em que está? Posso confiar que cada um de nós vai mandar em sua própria boquinha e conversar bem baixinho, apenas o suficiente para o coleguinha do lado ouvir? Posso confiar que cada um de nós vai tomar conta de si próprio e fazer nossos combinados de comportamento coletivo enquanto eu vou auxiliar um de nós que está mais necessitado no momento?(Recorda aqui com auxílio das gravuras que estão na parede, quais foram os combinados).

                Para completar o voto de confiança que aquele professor depositou em cada um, ele sai e fecha a porta deixando CADA CRIANÇA COMANDANDO A SI PRÓPRIA.


Com certeza, não será da primeira vez que aqueles estudantes aprenderão a controlar-se, mas agir assim, e ao voltar, não permitir que um fale como o outro ficou é, sem dúvida alguma, caminhar ao encontro da conquista da autonomia de todos e de cada um, saindo DEFINITIVAMENTE, do caminho da formação de uma comunidade de fofoqueiros dependentes emocionais dos castigos e prêmios do líder.