domingo, 10 de abril de 2011

NOTA ZERO PARA PROFESSORES QUE IGNORAM O EMOCIONAL DO ALUNO.

Publicado no site professornotazero.blogspot.com e na coluna http://www.uipi.com.br/professor-nota-10zero
Ely Paschoalick dá NOTA ZERO para professores que confundem bom comportamento com timidez e silêncio.
Consultora Organizacional que sou acostumei-me a ver nos murais das empresas sistemas para comunicar aos colegas como está o humor de cada um naquele dia.
Através desta manisfestação as pessoas têm oportunidade de respeitar e apoiar seus colegas de trabalho.
Este hábito de considerar o humor como fator importante na convivência e consequentemente na produtividade nos exemplifica o quanto nosso sistema de ensino ainda é “do tempo do onça” e anda na contra-mão do mercado de trabalho.
Na administração escolar e na LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional) é permitido oferecer outro dia para realizar a prova, caso o aluno tenha vivenciado algum fato que o abalou emocionalmente: morte de animal de estimação – doença em família- morte de familiares ou amigos próximos, experiências emocionais negativas...

Mas será que é isto que se pratica?

Como Consultora Educacional que sou acostumei-me a ouvir nas secretarias das escolas: _ Mas este menino faz uma manha... __Basta ser prova para dar esta dor de barriga... __ Não pode acreditar em tudo o que ele fala, faz esta cara de coitado e depois, no mesmo instante, está rindo e brincando...

Outro dia recebi um relato de um homem superinteligente e superculto que, com mais de sessenta anos recorda-se com tristeza de seu primeiro ano primário: “fiz em São Paulo Ipiranga e matriculei-me com o meu nome completo: pré-nome, sobrenome da mãe e sobrenome do pai. Na ocasião, minha mãe ficara tuberculosa e me privaram do contato com ela, mudando-me de cidade. Depois, minha mãe sarou, e tive que repetir o primeiro aninho em Corumbatai onde a professora Dona Carmen me matriculou registrando apenas meu pré-nome e o sobrenome de meu pai. A partir de então, todos os meus documentos escolares, por preceito legal, foram obrigados a seguir a declaração de meu primeiro ano primário  de Corumbatai senão dava problema sequencial escolar de um ano a outro ano de promoção. Então, perdi o sobrenome de minha mãe. Entretanto, em lembrança de minha primeira comunhão, exigi que aparecesse o nome da família de minha mãe. Foi a única oportunidade em que pude decidir por mim mesmo quanto ao uso do meu próprio nome”.

 Ponderem comigo sobre o relato acima. Quando a professora do primeiro ano escolar retira o sobrenome da mãe ela materializa a sensação de perda que aquele menino vivia ao ser afastado de sua mãe tuberculosa. Aquela materialização provoca uma cicatriz no coração daquele menino. Cicatriz capaz de fazê-lo lembrar-se do nome da professora. Cicatriz viva que, após sessenta anos ainda sangra e se evidencia como uma ferida recém aberta.

Nesta quinta-feira 7 de abril, o país vivenciou o massacre na escola de Realengo. Escrevi sobre como os pais devem agir frente a tal fato tão amplamente noticiado.

Aqui neste espaço quero fazer um alerta aos PROFESSORES NOTA ZERO que não consideram o emocional dos alunos e principalmente aqueles que confundem “Bom comportamento” com “ficar quietinho”.
Lembro-me de, quando diretora escolar, receber uma mãe que transferia a aluna de 7 anos de outra escola para a minha. Ela falara assim:
“__ Fui a uma reunião da escola de minha filha e a professora me disse: _Sua filha é ótima, ela não apresenta problema algum. É atenciosa, quietinha e muito educada. Aliás, eu mal escuto sua voz pois fala bem baixinho...”
A mãe me relatou que de imediato sentiu um arrepio na espinha e decidiu retirar sua filha de tal escola pois se ela era tão silenciosa algo estava acontecendo de muito ruim em seu emocional, uma vez que, possuía uma filha vibrante, faladeira, conversadora e especula. Perfil totalmente oposto ao que a professora lhe relatara.
A sensibilidade daquela mãe, em fato acontecido há mais de 30 anos, ficou em minha memória como diretriz de meu trabalho educacional: observar o comportamento emocional dos alunos para oferecer a eles oportunidades de se posicionarem, argumentarem, conversarem e principalmente sentir sobre o que pensa e pensar sobre o que sente.
Quero aqui registrar
NOTA ZERO para professores que acham “normal e bom” o comportamento ponderado e tímido das crianças.
NOTA ZERO para professores que desprezam ou desconhecem as teorias de Wallon sobre a emoção e o aprendizado.

NOTA ZERO para professores que se importam mais com a imobilidade dos alunos ao “prestarem atenção a suas aulas” do que com os sentimentos de inclusão ou exclusão social.

NOTA ZERO para professores que ignoram o emocional de seus alunos.
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