Leia a opinião da Educadora Ely Paschoalick a respeito do uso de um livro didático na sala de aula.
Ao navegar no portal UIPI deparei-me com a seguinte notícia: “MEC prorroga até dia 8 prazo para que escolas públicas escolham os livros didáticos de 2011” fiquei indignada e minha indignação foi aumentando à medida que lia a notícia pois esta afirmava que professores e diretores deveriam indicar os livros que serão usados nos próximos três anos pelos estudantes do sexto ao nono ano do ensino fundamental”.
Minha indignação, como educadora deste país, se dá não porque as chuvas molharam as senhas, não porque até o dia do vencimento do prazo apenas 44% das instituições de ensino teriam feito a escolha de livros...
Minha indignação acontece porque em pleno século XXI, o Ministério da Educação e Cultura do Brasil, os diretores e os professores de nossa nação CONDENAM os adolescentes deste país, por três anos a terem contacto com apenas um livro didático em cada matéria: Português, Matemática, História, Geografia, Ciências e língua estrangeira — Inglês ou Espanhol.
Antes mesmo do advento da internet, dos sites de busca e da tecnologia o uso de apenas um livro didático, por matéria, já era condenado por cientistas da educação que consideram a prática de acompanhar e seguir o conteúdo programático em um só livro um instrumento que restringe o espírito de pesquisa, o gosto pelo estudo, o desenvolvimento do raciocínio e principalmente o respeito à individualidade do aluno.
Sei que nosso país possui um extenso território, sei da diferença cultural e financeira que nos faz um país multi-cultural, mas creio que todo ser humano que vive no território brasileiro tem o direito de receber estímulos para o pleno desenvolvimento de seu cérebro e de suas potencialidades.
Ampliar a aprendizagem já era uma preocupação de Vygotsky na virada do século XIX para o XX quando, este educador russo, esclarecia seu conceito de Zona de desenvolvimento proximal, que implica na diferença entre o que o indivíduo consegue realizar sozinho e aquilo que, embora não consiga realizar sozinho, é capaz de aprender e fazer com a ajuda de uma pessoa mais experiente.
Condenar por três anos, um adolescente do mundo globalizado, em plena formação de seu espírito crítico e de pesquisa, a ter contato apenas com um livro didático, corresponde neste tempo de virada do século XX para o XXI a ensinar e estimular o adolescente a não pensar.
Será que é esta a escola que nossos políticos que se vangloriam na busca de títulos de “cidade da educação” estão construindo?
Será que não pensar é a base de não saber votar?
Lembro-me de estagiar em 56 escolas da Europa na década de 70 do século XX e encontrar em todas elas mini bibliotecas em cada sala de aula para que os alunos europeus pudessem pesquisar sobre o conteúdo estudado em diversas fontes de publicação, sob diferentes pontos de vista de variados autores.
Percebo que cada vez estamos mais longe do século XX da Europa e mais perto da CONSTRUÇÃO de adolescentes alienados que se desinteressam das aulas e se interessam cada vez mais por lan-houses que promovem jogos.
Muitos professores reclamam do respeito que os alunos não mais têm pelos professores. Mas respeito é um sentimento relacional entre dois seres humanos que só existe na reciprocidade e condenar o adolescente a engolir garganta abaixo um único livro didático, numa época em que as informações se modificam a cada segundo, é DESRESPEITÁ-LO em sua natureza questionadora e ávida de atividades e conhecimento.
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